quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CARNAVAL E OUTRAS ALEGORIAS DO POVO BRASILEIRO – por Roberto Pompeo


Tenho lido algumas notas e notícias a respeito do tumulto ocorrido na apuração do resultado do carnaval de São Paulo. Também tenho observado manifestações de leitores nas sessões de cartas do leitor de alguns grandes jornais e também nas redes sociais.
As manifestações são, basicamente, em dois sentidos. Ou condenando a violência e o vandalismo nas ações ocorridas. Ou condenando as razões dessa violência, no sentido de que o brasileiro só se insurge por razões banais, como carnaval e futebol, quando deveria fazê-lo também em outras situações, como desmandos do governo, política-econômica, reforma tributária, etc.
Li alguns comentários dizendo que tal comportamento justifica a alcunha de “povinho”, com que alguns cidadãos brasileiros gostam de se auto-designar, ainda que geralmente o façam com um distanciamento, como se quem diz não fizesse parte desse “povinho”.
Não posso aceitar essa designação! Não posso aceitar ser chamado de “povinho”. Fosse um estrangeiro a dizê-lo, certamente o “passivo” brasileiro cairia rapidamente na porrada contra a ofensa. Nós, brasileiros, nos achamos no direito de usar esse termo pejorativo. Sou obrigado a me insurgir contra isso.
Eu não digo olha o “povinho”, eu digo OLHA O “GOVERNINHO”, OLHA A “ELITEZINHA” desse país.
O brasileiro, volta e meia, se revolta e se insurge com coisas do futebol e do carnaval porque essa é a sua realidade, porque essas são as paixões que lhe são permitidas. É o que ele conhece.
Sim, será lindo o dia em que o Povo brasileiro tiver condições de se insurgir contra o sistema tributário predatório, contra a política-econômica espoliativa, mas para isso será necessário, antes, dar! Será necessário não só governar mas conduzir, será necessário não só educar mas formar, será necessário não só exigir mas dar exemplo!
Não se pode exigir maturidade nas manifestações de uma criança impúbere.
Como exigir que uma criança se torne um homem de bem sem os pais, sem carinho, sem bons exemplos, sem referencial, sem educação, que é o retrato da infância de grande parte dos brasileiros.
Sim, é lindo falarmos do alto da nossa autoridade de classe média que nunca teve carências reais, que nunca chorou de fome mas apenas pelo status e pela condição econômica mitigada, é lindo exigirmos que o povo se revolte com “questões sérias”. O povo se revolta com o que é a sua realidade, com o que ele entende, com o que para ele é questão séria. Se isso se resume a carnaval e futebol, não adianta castigar a criança, adianta sim formá-la. De homens bem formados poderemos exigir que se manifestem, que reclamem seus direitos, que lutem por um país verdadeiramente melhor, para além das maquiagens e discursos demagógicos. Mas será que realmente queremos isso?!
Depois de respondermos sinceramente a essa questão, e depois de realizarmos a resposta, aí sim, poderemos exigir de nós mesmos algo mais.
Pode-se ensinar e demonstrar cidadania a um povo que tem coração, mas não se pode ensinar tolerância, solidariedade e bondade a quem não o tem.
O que vai mudar o mundo é o coração das pessoas! E isso, nós, POVO BRASILEIRO, temos de sobra!

2 comentários:

  1. É, para dar, primeiro é necessário ter o que dar; também compartilho dessa esperança e só vindo de cima se pode falar em transformar, porque os sonhos não são desse mundo, mas é nesse mundo em que eles se realizam...

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