segunda-feira, 29 de setembro de 2014

SEM – Roberto Pompeo – 25/09/2014

Chuvas sem nuvem

Flores sem vaso

Sonhos sem noite

Palavras sem cheiro

Sementes sem terra

Frutas sem pé

Beijos sem boca


Vidas sem vida...

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PALAVRA AMASSADA – Roberto Pompeo – 26/04/2014

Lava as palavras
Boca suja
Lava!
Leva as palavras
Passear pela rua
Passear pela tua
Boca!
Mastiga as palavras
E cospe
Para ouvir
Se estalam ou
Se rimam!
Esfola as palavras
Sem dó
Só pra saber
Se choram ou
Resistem!
Toca as palavras
Com força
Pra sentir
Se gritam ou
Se cantam!
Atira as palavras
Ao chão
Para olhar
Se ficam ou
Se brincam!
Joga as palavras
Para o ar
Só para ver
Se caem ou

Se voam!

domingo, 21 de setembro de 2014

RECEITA PARA FORJAR VERSOS – por Roberto Pompeo – 20/09/2014

Coloque o forno pra esquentar em alta temperatura
Enquanto isso, separe os ingredientes
Palavras a gosto
Uma boa porção de rimas
Métrica e ritmo
Uma pitada de inspiração, se tiver em casa
Se não, use a imaginação
Crie sentimentos, invente dores, suscite situações
Ou a memória
Um beijo sob o luar
Barulho da chuva no telhado
O vento fustigando a copa das árvores
As nuvens em formas engraçadas
A estátua austera esquecida no canto da praça
Uma palavra lançada ao vento
Um olhar furtivo, uma pausa em silêncio
O sorriso da criança, a dor do ancião
Ou qualquer coisa com jeito de canção
Leve tudo ao forno até dourar
Deixe descansar durante a noite
Ela dirá a verdade sobre o poema,
Se está bom ou batumou
Pode acontecer de sair poema duro
Mas se estiver saboroso, vale a pena trabalhar
Lapide as laterais, corte as arestas, use martelo e formão,
Com cuidado, para não quebrar o poema
E se nada disso der certo, mantenha a calma e lembre-se
Não há com que se preocupar, pois todos já morremos,
A vida é apenas uma encenação...


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

RECOMEÇO – por Roberto Pompeo – 19/09/2014

Revisou rapidamente o
Reflexo do rosto
Repetiu as reações
Repassou o roteiro
Reconheceu não tê-lo

Reclamou da ressaca
Rebateu com rum
Recordou o regabofe
Regalado da véspera
Recostou-se no remanso

Refugiou-se no recôndito
Refém de reflexões
Recapitulando o recente
Relacionamento remoído
Repensando os erros

Resolveu reagir,
Render-se à retórica
Rematada do recalque nunca,
Recuperar o relumbre, sim,
Remover os restos rotos

Renascer sem relutar
Reacender o resplendor
Retomar resoluto
Sem receio o rumo irreversível
Do recomeço


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

TENTAÇÃO – por Roberto Pompeo – 05/09/2014

Atente para o que digo:
Quando tenta não me tentar
Fazendo ar de recato
Com olhar meio de lado
E sorriso de resguardo
Não logra senão aumentar
O impulso íntimo, o desejo
De atentar com as mãos
Pra me certificar com o tato
Das curvas do seu caminho
Desprovidas de pudor

Atente para o que explico:
Esse jeito de menina
Que guarda bem um segredo
Em lugar oculto e seguro
Envolto pela decência
Não faz senão induzir
Este pobre diabo incauto
A se lançar em empresa
Que está pr’além de suas forças
De resistir ao perigo
Dos encantos femininos

Tome tento do seguinte:
Quem na vida muito atenta
Acaba por ser atentado
Precaução nunca é demais
Quando você me aparece
Toda envolta em mistério
Não faz senão seduzir
Criando desejo, instigando
Sugestionando pecado
Impulsos incontroláveis
Que não serão saciados