Dia desses, ouvindo um texto declamado de Viviane Mosé,
Receita para lavar palavra suja, um trecho me fez refletir sobre qual a
conotação, o peso, o significado das palavras.
Elas não possuem significado algum. As palavras são simples
ferramentas vazias, que só se prestam a alguma coisa quando há um outro
elemento presente: o acordo de vontades.
Sempre costumo dizer em aulas e conversas que o princípio do direito que mais me apraz é a autonomia da vontade das partes. É o mais lindo princípio do direito civil, do direito em geral e da vida. Quando as pessoas se põem acordes sobre algo o resultado sempre é belo, sempre é positivo, sempre é feliz.
O acordo de vontades se opõe e sobrepuja a imposição de uma
vontade sobre outra. Ele supera preconceitos, estabelece parâmetros, abre
portas para a compreensão e janelas para o amor.
Voltando às palavras, elas só possuem significado quando
quem as profere e quem as recebe estão de acordo sobre o que significam. Para
que haja entendimento, consenso é necessário.
Um idioma é fruto do consenso de muitas pessoas sobre o
significado de muitas palavras. E ainda assim, entre pessoas de mesmo idioma,
se não houver consenso, não haverá entendimento. Uma torre de Babel, onde todos
emitem os mesmos sons, mas aos ouvidos dos demais não passam de grunhidos
animalescos. Qual um maestro surdo regendo uma orquestra de músicos cegos, com
instrumentos desafinados.
Sem entendimento, não há linguagem. Sem linguagem, não há
civilidade. Sem civilidade, não há humanidade.
Quando não há acordo, as mesmas palavras levarão à dissenção,
que poderá se converter em discussão, que poderá descambar para altercação, que
poderá chegar às vias de fato. Em escala coletiva, poderá conflagrar uma
guerra.
Portanto, antes de falar, seria conveniente refletir sobre a
disposição e a capacidade de entendimento do interlocutor. E antes de tirar
conclusões sobre o que o outro “quis dizer”, seria conveniente perguntar.Assim, se poderia estabelecer o consenso, levando ao entendimento, permitindo a compreensão e chegando finalmente à concórdia, a comunicação de coração a coração.
Talvez então as palavras até se tornem dispensáveis...