Finalmente a chuva veio.
São engraçados os tempos que antecedem a chuva depois de um
período relativamente longo de estiagem. Sim, porque quando ela se faz presente
de poucos em poucos dias, está no cotidiano, ainda mais numa cidade como
Curitiba que tem chuva em metade dos dias do ano.
Desta vez foram praticamente quinze dias sem ela. Dias
lindos, de sol e céu azul. Quentes demais, é verdade, porque como bons
curitibanos não podemos deixar de reclamar de alguma coisa.
Mas depois de um período longo (para os nossos padrões) de
seca, nosso subconsciente parece ficar na expectativa de que vai chover a
qualquer momento. Quando será? Hoje? Levo capa? Guarda-chuva? Houve dias em que
a chuva ameaçou e nada... Curiosamente, observei que isso vai gerando nas
pessoas uma certa ansiedade, quase angústia. Muita gente começa a ficar
incomodada, sem nem saber direito por que, para além da mera preocupação com o
clima e com a iminente chuva que não vem.
O ápice ocorreu na sexta-feira. Depois de duas semanas
inteiras (e um fim-de-semana) de sol, aproxima-se o final-de-semana. Todo bom
curitibano sabe que não é bom o suficiente para ter direito a dois
finais-de-semana seguidos de sol. E obviamente toda uma semana útil de tempo
bom só serve para prenunciar sábado e domingo submersos. Mas, pasmem, nada de
chuva!
Então, quando já estamos quase desistindo e pensando que o
sol brilhará para sempre, ela chega. É a materialização de um paradoxo: uma
surpresa esperada. Um simples olhar na previsão do tempo teria eliminado a
surpresa, mas muitas pessoas optaram por não mais olhá-la, já que nunca mais iria chover. Ou, mesmo olhando, optaram por não acreditar, afinal o serviço de
meteorologia sempre erra.
Mas da cama você a escuta. Não acredita em seus ouvidos,
precisa vê-la. Abre a janela e constata: Ela chegou.
Chegou com tudo. Com engarrafamento, com acidentes, com
alagamento, com protestos, sem taxis, sem guarda-chuva. Mas foi bem recebida,
pois acabou com a ansiedade da espera. Agora que as coisas voltaram ao normal,
podemos seguir com nossa vida. Agora temos novamente a chuva para culpar por
todas as mazelas sociais e pessoais. Agora o mau-humor e a irritação voltam a
ter justificativa. Pedras deixadas cuidadosamente soltas nas calçadas para
espirrar lama na barra na nossa calça. Pessoas andando sob as marquises com o
guarda-chuva aberto, prejudicando as minorias sem-guarda-chuva, a festa da
democracia entupindo as ruas e calçadas com protestos gritados ao som de
buzinas e tambores, o céu cinzento mirando casmurro as pequenas
pessoas-formigas se agitando confusas cá embaixo. Enfim, um dia normal.
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