quinta-feira, 15 de março de 2012

CRÔNICAS FACEBOOKIANAS – CHUVA – por Roberto Pompeo – 15/03/2012 – Curitiba


Finalmente a chuva veio.
São engraçados os tempos que antecedem a chuva depois de um período relativamente longo de estiagem. Sim, porque quando ela se faz presente de poucos em poucos dias, está no cotidiano, ainda mais numa cidade como Curitiba que tem chuva em metade dos dias do ano.
Desta vez foram praticamente quinze dias sem ela. Dias lindos, de sol e céu azul. Quentes demais, é verdade, porque como bons curitibanos não podemos deixar de reclamar de alguma coisa.
Mas depois de um período longo (para os nossos padrões) de seca, nosso subconsciente parece ficar na expectativa de que vai chover a qualquer momento. Quando será? Hoje? Levo capa? Guarda-chuva? Houve dias em que a chuva ameaçou e nada... Curiosamente, observei que isso vai gerando nas pessoas uma certa ansiedade, quase angústia. Muita gente começa a ficar incomodada, sem nem saber direito por que, para além da mera preocupação com o clima e com a iminente chuva que não vem.
O ápice ocorreu na sexta-feira. Depois de duas semanas inteiras (e um fim-de-semana) de sol, aproxima-se o final-de-semana. Todo bom curitibano sabe que não é bom o suficiente para ter direito a dois finais-de-semana seguidos de sol. E obviamente toda uma semana útil de tempo bom só serve para prenunciar sábado e domingo submersos. Mas, pasmem, nada de chuva!
Então, quando já estamos quase desistindo e pensando que o sol brilhará para sempre, ela chega. É a materialização de um paradoxo: uma surpresa esperada. Um simples olhar na previsão do tempo teria eliminado a surpresa, mas muitas pessoas optaram por não mais olhá-la, já que nunca mais iria chover. Ou, mesmo olhando, optaram por não acreditar, afinal o serviço de meteorologia sempre erra.
Mas da cama você a escuta. Não acredita em seus ouvidos, precisa vê-la. Abre a janela e constata: Ela chegou.
Chegou com tudo. Com engarrafamento, com acidentes, com alagamento, com protestos, sem taxis, sem guarda-chuva. Mas foi bem recebida, pois acabou com a ansiedade da espera. Agora que as coisas voltaram ao normal, podemos seguir com nossa vida. Agora temos novamente a chuva para culpar por todas as mazelas sociais e pessoais. Agora o mau-humor e a irritação voltam a ter justificativa. Pedras deixadas cuidadosamente soltas nas calçadas para espirrar lama na barra na nossa calça. Pessoas andando sob as marquises com o guarda-chuva aberto, prejudicando as minorias sem-guarda-chuva, a festa da democracia entupindo as ruas e calçadas com protestos gritados ao som de buzinas e tambores, o céu cinzento mirando casmurro as pequenas pessoas-formigas se agitando confusas cá embaixo. Enfim, um dia normal.


Mas um pequeno detalhe fez lembrar que água é vida. No meio do meu mal cuidado jardim, altiva, sorrindo, uma rosa que não estava lá antes. Ontem ela era um imperceptível botão que esperava, também ansioso, apenas um pouco d’água para mostrar toda a sua beleza de flor.

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