Soraya Marilin andava acabrunhada pelos
cantos da casa, sem voz para nada, nem para os cantos que entoava. Sua mãe se preocupava com a desinfelicidade da filha e a
interpelava sobre as razões de tal estado, ainda que já intuísse nas suas
percepções de mãe que o semblante refletia o coração.
Por converseios tortos, como as
mulheres são hábeis em fazer, se achegou à moça para extrair confissão. Ela, Marilin, como a chamava a mãe, reclamosa, colocou as causas do seu pesar sobre Juliano, moço que
andava à roda dela sempre cheio de cortesias desfazendo-se em diligências e
gentilezas, tudo para agradar Soraya.
A mãe logo foi perguntando o que
ele havia feito, se lhe havia agravado agredido ou injuriado, ao que a moça
respondeu que muito ao contrário. Era ela que movida por pensamentos que nem
pareciam seus fazia de tudo para desfazer do rapaz. Esforçava-se para
afastá-lo de si. Mas parecia que quanto mais ela agia assim, mais ele se
desdobrava para agradá-la. Ignorava as ofensas, relevava as ausências e fazia
ouvidos moucos às exortações para se afastar e desaparecer.
Fosse um homem, a mãe mostraria
confusão ante tão despropositada declaração. Desde quando é ruim a gentileza? Mas sendo mulher apenas sorriu,
abraçou a filha e nem precisou dizer, pois a comunicação ficou naquela esfera
gestual e telepática delas, mas pensou que apesar de todas manifestarem sonhos
e desejos de um homem que mude sua vida e as ame incondicionalmente, as
mulheres não querem realmente isso. Querem, ao contrário, imprevisão, surpresa,
e mesmo sem jamais admiti-lo até condução. Uma pitada de dificuldade também não
vai mal, pois o que fácil vem, fácil vai, diz o ditado popular. Querem um homem que magicamente lhes retire a armadura.
Então, ali no sofá da sala,
dentro do abraço da mãe, o acabrunhamento de Soraya se foi dissipando,
dissipando, até que se evaporou todo. Afinal, já estava quase na hora de Juliano
tocar a campainha, pontual como um cuco, quem sabe trazia uma rosa para ela
dizer que preferia camélias, ou uma camélia para ela dizer que preferia rosas.
Quando o ponteiro maior do
relógio excedeu um minuto Soraya desassossegou. Quando já se iam cinco,
desesperou. Contendo a respiração acelerada, maquiando o transtorno e mal
disfarçando a ansiedade, partiu lépida para a praça central da cidadinha,
direto ao café, ponto de encontro de todos os homens.
Que era feito de Juliano, alguém
o vira? Claro, a menina não sabia? Tinha partido naquela mesma manhã, de mala e
cuia, embora para a cidade ninguém sabia qual, uma grande. Pelo jeito que foi,
era pra não voltar. Até pagou a conta que já estava pendurada fazia tempo.
O sangue sumiu do rosto de
Soraya. Já era branquinha, ficou quase translúcida. Nem ouviu lhe oferecerem um
copo d’água, partiu para casa, ausente de si mesma. Daquele dia em diante todos
os dias esperava o único ônibus da capital, acompanhando o desembarque até o último
passageiro. Perdeu toda a graça que já tivera muita. Nunca mais voltou ao
normal.
No dia em que partiu, naquele ônibus, Juliano com os olhos marejados só pensava em por que as mulheres não queriam
ser amadas pelos homens...
Olá! Ao ler as crônicas parece que estava vendo você falar, acho que conversamos sobre muita coisa que está aqui! Esse texto me faz refletir sobre o que no fundo, cada um busca: amar e ser amado. Parabéns pelo Blog! Se você permitir, gostaria de compartilhar os seus textos :)
ResponderExcluirOlá! Pode compartilhar é claro, quanto mais gente ler melhor :) Valeu. Abraço!
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